segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Colégio das Madres e Casas da Saudade





















As fotografias do post anterior – As raízes – correspondem, a primeira ao Colégio das Madres, ou de Paula Frassinetti, no Lubango. A seguinte representa parte da fachada da antiga Escola Primária da Machiqueira que foi fundada pelo meu avô, um bairro do Lubango. A terceira mostra a entrada da casa construída pelo meu avô para aí viver com a minha avó e filhos, entre os quais o meu pai. O portão de ferro foi colocado há pouco tempo. Vivem aí os descendentes de um casal de velhotes que faleceu.
A M. conhece-os e diz que vai falar com eles para me autorizarem uma visita. O meu receio será o deles: suspeitarem de que irei reclamar a casa. Não é que não tenha pensado nisso, hesito entre o querer e o deixar como está, pois não sei se me sedentarizarei por aqui ou continuarei nómada ou voltarei a mudar de continente. E há vidas que não se recuperam e tempo que não volta para trás na antítese do apelo da famosa canção.
Mas gostava muito de tactear as paredes e pisar o chão do amor e sacrifício dos meus antepassados e de filmar os recantos onde o meu pai e tios brincaram e sonharam a dormir e acordados.
Não é todos os dias que a alguém se dá a possibilidade de coser as pontas soltas do seu destino.
O Colégio Paula Frassinetti, dito das Madres, fica no mesmo quarteirão da casa dos meus avós e mais casas que eles edificaram e alugaram. O terreiro defronte da capela está pejado das árvores mais lindas do Lubango, os frondosos jacarandás. De flores roxas e a dar a sombra merecida para fugir à canícula.
As madres, de vestes alvas, que encantavam a minha tia, já lá não estão, acho eu. O que eu vi foi um outrora grandioso edifício rabiscado por grafitti, com os muros esboroados, os azulejos partidos e as cores empalidecidas. Funciona como escola primária por turnos matutinos e vespertinos com portas que não se fecham e que não vedam a entrada de uma capela que já não ou raramente faz serviço.
Há muito que se espera um restauro, uma reabilitação que tarda porque houve guerra e não era possível pensar nisso. A Igreja tem que zelar pelo seu património, cuidar em devolver um colégio de tantas memórias e vocações à cidade.
No dia em que lá fui, só o rodeei e filmei à volta, com as crianças a pular e a querer aparecer no filme e nas fotos, a cercarem-me, ansiosos por ver as imagens e por me mexer no cabelo. Cada um gosta do que não tem.
O filme é para mostrar à família no Natal e quiçá ao Patriarcado de Lisboa para ver se se interessam pela recuperação.
Todavia, há tanto por recuperar no Lubango, entre casas lindas da arquitectura colonial, as ruas, os novos edifícios que ficaram pelo esqueleto de cimento, as linhas férreas e os itinerários de comboio…Nesta semana já taparam os buracos da estrada do Caminho de Ferro de Lubango ao pé do bairro de Santo António onde vivo. Ficam por encher os que existem no bairro Lucrécia logo a seguir.
Há um novo Governador Civil no Lubango e todos esperam muito dele.

2 comentários:

septuagenário disse...

Apenas conseguimos a felicidade se os nossos vizinhos tambem forem felizes.

E na terra dos "chicoronhos" havia muita felicidade e alegria.

Shadydreams disse...

E havia sobretudo capacidade de convívio, de se poder falar de tudo sem tabus, de dosear esforço e sacrifício com prazer e hedonismo. Contam os meus ancestrais para quem a vida foi difícil e doce.