domingo, 12 de outubro de 2008

Chuvadas no Lubango






Hoje choveu no Lubango. Nem 1 minuto. Bátegas grossas e relâmpagos. Estava à espera de ver uma cortina a chegar como na Guiné. Mas o horizonte da cidade recorta a visão. Pelo menos refrescou.

No ano passado choveu pouco e os ribeiros estão baixos. Mas eles não deixam de lavar os carros com água barrenta dos regatos e, depois, puxam-lhes o lustro. Apesar da poeira, os carros estão impecáveis.
Tenho uma mosca a picar-me a paciência. Tive que lhe dar um safanão. Não me largava o braço. E esta era pequenina. Há umas gigantes que zumbem atroadoras logo pela manhã.
Partilhamos o espaço com uma série de bichos nada temerosos: baratas, salamandras, mosquitos, abelhas, vespas, gafanhotos....
As baratas passeiam na nossa cisterna. Ainda temos mais dois latões verdes que hoje vieram abastecer. Água, só bebemos engarrafada da Serra da Chela. Saborosa. Mas, a seguir, cozinhamos com água do baratal.
Contradições...ehehehe.
Amanhã recomeça o trabalho. Custa muito estar dependente do condutor. A alternativa é andar a pé, mas é difícil porque não conhecemos os trajectos e está muito calor.
Com tempo...
Por enquanto, o olhar é desmesurado no avistamento da paisagem, dos pormenores, do colorido, das pessoas....porque tudo é diferente, estranho, excitante.
Dividimos as nossas obrigações com sortidas aos supermercados Marivel e Lueje para nos abastecermos com muita disciplina porque é tudo muito caro. Só uma vez bebi leite verdadeiro desde que estou aqui. Optámos pelo leite em pó Nido porque rende mais. O nosso luxo é ir tomar café, comer tostas e pizzas ou beber um batido de abacate no café Huila ou no café ArtDoce. O primeiro fica na rua Ex-Pinheiro Chagas, diz mesmo assim na factura.
Estou a morar no bairro de Santo António, donde avisto o Cristo Rei. E tenho que atravavessar uma ponte mais uns minutos de caminho para chegar ao Clube Ferroviário, perto do local onde trabalho.
Sinais de todos os outros tempos subsistem nidificando uma avidez por visitar tudo e mais alguma coisa, só que não dá. O condutor diz que as coisas não saiem do lugar e que há tempo para essas actividades, agora os interesses da instituição pairam acima dos gostos pessoais. Ele tem razão, mas a emoção tem razões que a razão desconhece e eu sou concupiscente na obervação e contemplação de parte das minhas raízes que até agora vi de longe e rápido. É uma injustiça!

2 comentários:

Anónimo disse...

Tomo como minhas as tuas palavras.Olho na memória essa "chuva oblíqua" antecedida por uma aragem prenuncio da sua chegada.Um manto fresco o cheiro a terra molhada , e quantas vezes a corrida á frente dessa cortina de água!

Flip disse...

cara Diadema (permite que te trate assim, e por tu, nós muadiés angolanos somos assim). Estive por aí em 2005, já não visisitava Angola há uns 30 anos, desde que daí voltámos...adorei, e senti então, porque os teus 'posts' assim o relatam, as dificuldades de aí vive, hoje, mas é sempre agradável voltar à terra(Angola) onde nascemos e passámos a juventude, o melhor talvez da nossa vida...A familia da minha mulher é que era daí, a familia é Simões de Abreu, tinham aí uma Quinta linda, perto do casino, na Senhora do Monte, chamava-se mesmo assim,....quando aí estive só espreitei, receei que pensassem que ia lá reivindicar alguma coisa etc, sabes comé...foi maravilhoso.... Vou-te espreitando ok? Ah, se puderes manda ou coloca foto da Quinta tá? Obg., um beijinho e fica bem.