sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Serra da Leba





Foi o nosso primeiro passeio fora da rotina de trabalho-casa. Já sufocávamos. Saímos sem saber para onde íamos. O nosso Condutor é assim. Lembra-me o pai de uma amiga que nunca comunicava à família o destino do passeio de domingo. Ela sabe…
Fomos assim, ignorantes, saídos da caverna (a nossa clausura) encadeados pela luz, pelo fogo do conhecimento de uma terra por nós a desvendar.
Vou esquecendo os pormenores abafada pela sucessividade de informação ou por uma letargia na qual me recolho para camuflar um desconforto por falta de solidão voluntária.
A estrada de curvas, maravilha de engenharia, não parece ser tão assustadora quanto as fotografias panorâmicas da Internet, pelas quais ia tomando conhecimento da paisagem da Huila. Vista de perto. Mas, conduzir lá é um exercício de perícia e atenção. O que custa quando se quer devorar o horizonte.
Nesse dia regateámos, muito pouco, a tal múcua e comprámos uma faca de mato feita pelo rapaz que a trazia pendurada a tiracolo. Não a comprei eu. Lembrava-me outros artefactos que tenho em casa, antigos, dos meus pais.
E recordo a cara de espanto do rapaz (mucubai?) atónito perante o interesse do pula no seu singelo utensílio, mas seduzido pela expectativa de alguns kwanzas de rendimento. Não sabia ou não queria falar português. Quem negociou por ele foram os amigos mais poliglotas.
Estranho, nem todos aqui falam português numa família. Mas há sempre alguém que vai ou foi à escola e por isso consegue comunicar connosco, resgatando oportunidades exógenas.

1 comentário:

Anónimo disse...

Do isco que é a leitura do teu blog, vou pescando no mar calmo que agora agitas, os meus próprios momentos, tão antigos que os julgava descoloridos na memória e a entrarem naquela margem em que ficcionamos as nossas recordações...E vejo então mais nitidamente aquele acordar antes da madrugada,o fresco da noite que se esvai,e a saída para irmos de passeio nesse dia,a fazer um piquenique,trezentos ou quatrocentos quilometros mais adiante,para praias de paraíso.
Agora me dou conta que são dois filmes que correm a par, o teu actual cheio de cor e vibrante e o meu que se desenrola a sépia mas com muita emoção, por esse tempo perdido para sempre e que não se busca mais.Apenas e só lembranças.